O apoio de Bolsonaro a Nunes expõe um contraste claro: de um lado, Marçal representa uma direita que busca se manter fiel aos princípios conservadores, com foco em valores como liberdade individual, proteção à família e menor interferência do Estado na vida dos cidadãos. De outro, Bolsonaro, uma vez líder incontestável da direita, se vê associado ao pragmatismo político e a alianças que enfraquecem sua imagem de defensor intransigente do conservadorismo.
A recente aproximação de Bolsonaro a figuras do centrão e seu apoio a Nunes enfraqueceu sua imagem de líder “anti-establishment” e defensor da direita tradicional. Ao longo de sua carreira, o ex-presidente se notabilizou por uma retórica forte contra o sistema, mas sua gestão no governo, repleta de negociações com o centrão e concessões políticas, levantou questionamentos sobre sua real fidelidade aos princípios conservadores.
Essa aparente contradição foi destacada por críticos da base bolsonarista e, mais recentemente, pela própria campanha de Pablo Marçal. O argumento é claro: enquanto Bolsonaro tenta manter seu espaço político através de alianças pragmáticas, Marçal surge como a alternativa que verdadeiramente representa a direita “puro sangue” — uma direita que não se curva ao centrão, que se recusa a fazer acordos com figuras da esquerda, e que está disposta a lutar pelos valores originais do conservadorismo brasileiro.
Pablo Marçal: O Verdadeiro Herdeiro da Direita?
O apoio crescente a Marçal por parte de nomes influentes da direita conservadora, como Nikolas Ferreira e Ricardo Salles, reforça essa narrativa. Para esses líderes, Bolsonaro já não é o guardião dos valores que prometeu defender, e sua aliança com Nunes evidencia essa traição. “Bolsonaro se curvou ao sistema, enquanto Marçal se mantém firme em suas convicções”, declararam em várias ocasiões.
Além disso, a campanha de Marçal tem se fortalecido com o discurso de que o país precisa de uma nova liderança que não tenha medo de enfrentar o establishment. Ele defende uma direita comprometida com a renovação política, que não aceita negociar com a esquerda ou o centrão para conquistar o poder.
Essa postura tem atraído uma base crescente de eleitores desiludidos com o pragmatismo político de Bolsonaro, que, ao apoiar Nunes, dá indícios de que está mais interessado em garantir a sobrevivência política de seu grupo do que em defender os princípios que levaram milhões de brasileiros a confiar nele.
A Máscara Caiu?
O momento atual coloca Bolsonaro em uma posição delicada. Ao apoiar Nunes, ele corre o risco de alienar a base mais ideológica e comprometida da direita, que agora enxerga em Pablo Marçal um candidato mais alinhado com os valores conservadores. Para muitos, a máscara caiu: Bolsonaro, que outrora se apresentava como o defensor da pátria, da família e da liberdade, estaria agora mais preocupado em acordos de bastidores do que em manter a coerência de seus ideais.
Por outro lado, Marçal surge como a grande aposta de uma direita que não se rendeu. Sua campanha, que ganha força com o apoio de figuras influentes e líderes evangélicos descontentes com o pragmatismo bolsonarista, promete representar uma direita renovada, livre de concessões políticas e alianças que contrariam seus princípios.
Se o segundo turno das eleições municipais for entre Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB), o cenário político ganhará um novo capítulo decisivo para o futuro do conservadorismo no Brasil. Esse embate entre a “direita pragmática” de Bolsonaro, que busca alianças com o centro e até setores da esquerda, e a “direita puro sangue” de Marçal, que se posiciona como defensor intransigente dos valores conservadores, poderá redesenhar o mapa político nacional.
A grande questão que se coloca é: o eleitorado conservador estará disposto a seguir Bolsonaro em uma aliança improvável, que prioriza o pragmatismo e a governabilidade, ou optará por uma ruptura, apostando na renovação ideológica e no discurso mais puro e direto de Pablo Marçal? Este embate promete não só decidir o futuro da eleição, mas também refletir os rumos do conservadorismo brasileiro nos próximos anos, colocando à prova a influência de Bolsonaro e a ascensão de novas lideranças.